Um dos grandes símbolos da Abolição da Escravatura no Brasil foi uma plantação de flores no Rio de Janeiro.
No final do século 19, a camélia ainda era uma flor rara no Brasil, assim como a liberdade dos negros. A planta traz sua procedência no nome científico, Camellia japonica. Do Japão, veio para ornamentar jardins de nobres e burgueses, que começavam a desabrochar para ideais mais humanistas. José de Seixas Magalhães era um deles.
Na década de 1880, no Quilombo do Leblon, escravos fugidos e bem articulados cultivavam delicadas camélias, que depois vendiam pela cidade.
O Quilombo no Leblon foi idealizado pelo português José de Seixas Magalhães, homem de idéias avançadas, fabricante de malas e sacos de viagem. Em sua chácara, cultivava camélias com o auxílio de escravos fugidos e com a cumplicidade dos principais abolicionistas da capital do Império, flores que eram o símbolo por excelência do movimento abolicionista e da Confederação Abolicionista. Com a proteção do Imperador e de sua filha, o Quilombo do Leblon nunca chegou a ser seriamente investigado, continuando Seixas a enviar à princesa seus subversivos ramalhetes de camélias. A Princesa ousou, algumas vezes, aparecer em público com uma dessas flores a adornar-lhe a roupa, fato sempre notado pelos jornais. Foram-lhe oferecidos, inclusive, quando da assinatura da Lei Áurea, buques de camélias pelo presidente da Confederação Abolicionista, João Clapp, e pelo Seixas.
As flores subversivas viraram símbolo da causa. Quem colocava uma camélia na lapela ou a cultivavam no jardim da casa confessava sua fé abolicionista.
A flor servia como uma espécie de código de identificação entre os abolicionistas, principalmente quando empenhados em ações mais perigosas, ou ilegais, como auxiliando fugas ou conseguindo esconderijo para os fugitivos. Um escravo podia identificar imediatamente possíveis aliados pelo uso de uma dessas flores no peito, do lado do coração. Naqueles tempos, usar uma camélia na lapela ou tê-la em seu jardim em casa, era uma quase acintosa confissão de fé abolicionista. Alguns pés de camélias remanescentes desse tempo simbólico ainda podem ser encontrados nos jardins, como os da Casa de Rui Barbosa, atuante membro do movimento abolicionista. Estes pés de camélia são documentos vivos e, em algumas épocas do ano, floridos, da história do Brasil.
Em 1888, no clímax da campanha abolicionista, a princesa Isabel organizou festa inspirada em comemorações francesas, a Batalha das Flores. Objetivo: mobilizar a alta sociedade de Petrópolis – sede da família imperial – e arrecadar fundos para a Confederação Abolicionista. No carnaval de 1888, 12 de fevereiro, a princesa, o marido, conde d’Eu, filhos e amigos percorreram a cidade em carruagem ornamentada com camélias.
Fontes:
http://www0.rio.rj.gov.br/rio_memoria/1888.htm