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Nossa colaboradora Márcia Dilney e a descoberta da fotografia

Por 10 de julho de 2020 Sem comentários

Márcia Nascimento Dilney é colaboradora do Primavera Garden desde 2002. E recentemente descobriu um novo talento até então desconhecido: a fotografia da natureza.

Como começou a história da fotografia na sua vida?

Foi assim: eu sempre olhava as coisas de um jeito diferente. Há alguns anos atrás eu tive um momento muito difícil, passei uns períodos muito ruins na família. No meio daquele turbilhão todo a gente fica triste, para baixo. Daí eu comecei a olhar as coisas a minha volta de um outro jeito. Porque até então a vida passa meio que desapercebida aos olhos da gente.

No meio de tudo aquilo, eu às vezes ficava sozinha no caixa da loja  – eu ficava sempre ali no caixa, nunca saía dali. Num momento ou outro, quando não tinha ninguém na loja, mais no finalzinho da tarde, eu comecei a sair e a ver coisinhas bem minúsculas. Foi quando comecei a fotografar. E a guardar aquelas fotos.

 

Quando decidiu começar a postar as suas fotos no Instagram?

Eu já tinha um Instagram pessoal, mas ele era mais voltado para ver receitas, pesquisar exercícios – porque eu gosto muito de fazer exercícios, gosto de correr, de pedalar, gosto de me alimentar bem – e o meu Instagram era mais voltado para isso. Só usava para pesquisar,  não postava nada.

Depois que comecei a fotografar pensei: vou postar alguma coisa.

Comecei também a seguir umas 2 ou 3 pessoas cujo trabalho me chamava a atenção. E ao poucos  comecei a ver as coisas de outro jeito.

 

As suas fotos têm um estilo muito próprio. Como você definiria esse estilo?

Eu adoro tudo o que é pequeno, tudo o que é visto de perto. Eu adoro o inseto, eu adoro a abelha, eu adoro essas coisinhas. Meu olhar é para o pequeno. Para o detalhe.

Em que lugar você começou a fotografar?

Foi na estufa da loja! Eu passava por uma florzinha ali na estufa e pensava: “ai, que bonitinha! Como eu nunca vi isso antes?” Mas é porque antes eu não estava tão sensível, tão aberta, eu não me via muito naquele universo.

Comecei a fotografar ali na estufa e percebi que fui melhorando. Mais pessoas começaram a me seguir, a me dar elogios. Eu sigo pessoas que jamais pensei que iriam me seguir!

E os meus incentivadores, as pessoas que mais me deram apoio, foram as pessoas daqui. Foram os meus amigos daqui. Eles viam tudo o que eu estava passando e eles diziam: “Márcia, vai lá tirar uma foto para te distrair, para a gente ver.” E foi assim que eu comecei.

Há quanto tempo você fotografa?

Vai fazer um ano que eu comecei com as fotos. Hoje eu tenho umas 480 fotos publicadas, e muitas mais guardadas. Eu sempre seleciono. Eu faço umas 4, daí escolho a que acho que vai ficar melhor.

Mas as interações no Instagram começaram de uns 6 meses para cá. No Instagram, pessoas que tem assim uns 17 mil seguidores me seguem. E eu fico pensando, “meu deus, como é que essa pessoa parou para olhar a minha foto e ainda me manda um comentário!

E eu não sei nada de inglês…. sei muito pouco. Daí eu baixei um google tradutor para poder entender e responder. Porque é muito feio a gente receber um elogio – a pessoa parou, curtiu a tua foto, te elogiou e você não responde. Então eu respondo todo mundo, todo mundo, todo mundo, todos os meus colegas.

Qual equipamento você utiliza para fotografar?

Eu fazia todas as fotos com o meu celular. Às vezes usava um filtro. Por exemplo: às vezes eu vejo uma florzinha que é linda, mas ela precisa de um toquezinho, daí eu vou ali e escureço o fundo, tiro umas impurezas que tenha.

Agora eu comprei uma câmera.

E só agora que eu estou me descobrindo, que estou aprendendo a mexer nela, a usar as oportunidades que ela vai me dando. Tanto que as minhas fotos já mudaram muito. Já houve um progresso.

Fotografar mudou o quê na sua vida?

Eu saí de um universo em que eu vivia muito fechado, muito restrito. Eu sou uma pessoa muito tímida, muito na minha, muito reservada. Eu recebo várias mensagens, todos os dias, de pessoas que também fotografam e são muito boas, que tem um olhar … e  eu penso assim: “meu deus, ela enxergou o que eu também ia enxergar ali, uma florzinha que passou despercebida, e transformou aquilo ali em uma obra de arte.”

Até a minha família olha e diz p’ra mim “Márcia, tú fez isso!” E eu digo: “Eu fiz!”

 

Seu olhar já busca outros temas para as fotos que não só as flores?

 

Sim! Hoje eu dei uma olhadinha lá numas coisinhas que eu estava fazendo, daí fotografei uns passarinhos. E postei duas fotos deles.

Eles estavam bem escondidinhos, mas ficaram boas as fotos. Ficou meigo, ficou fofo, porque eu amos essas coisinhas minúsculas, eu amo. Pena que eu não tenho mais recursos para investir em equipamentos mais potentes, mas um passo de cada vez. Estou muito feliz que já comprei aquela câmera e aquelas 2 lentes. Com isso eu vou fazer muita coisa boa.

Agora eu quero fazer um curso para aprender algumas técnicas, a mexer mais na câmera, aprender os recursos, para eu dar um brilho a mais em algumas coisas.

O que você quer passar com as suas fotos?

Eu quero que, quando a pessoa olhe a minha foto, pense: “que amor, que doçura, que paz que isso está me trazendo.” Eu não quero que olhe só para me dar um GOSTEI ali, só para dizer que ficou bonito. Eu quero que as pessoas vejam e sintam isso.

Porque o momento que eu passei foi muito ruim, hoje eu estou num momento melhor.

Quando eu fotografava no início eu queria ter isso – amor, doçura, paz. Eu queria que as pessoas quando vissem as minhas fotos também vissem que eu estava bem, que eu estava tentando ficar bem, que eu estava tentando ficar melhor do que eu estava antes. E eu vejo que as pessoas recebem isso, elas dizem “ai, como a tua foto passa paz, passa tranquilidade”.

Numa escala de 0 a 10, quanto começar a fotografar melhorou a minha vida?

10! Eu era uma pessoa meio sem brilho. Eu não tinha brilho antes. Eu tinha, mas era um brilho escondido.

Fotografar me abriu portas para várias coisas. Conheci pessoas bacanas, descobri um talento que eu não sabia que eu tinha, que eu tinha mais sensibilidade do que eu achava que tinha. Fotografar só me trouxe coisas boas. Em nenhum momento teve um lado negativo. Coisas boas para mim, para a minha alma, para o meu interior, para a minha autoestima.

 

Suas fotos mais recentes já incluem outros temas que não apenas as flores?

Sim. Esses dias eu saí para pedalar com o meu sobrinho. Aqui perto nós passamos por um cavalo e aquele cavalo não parava de vir para perto da gente. Fui bem pertinho dele e o meu sobrinho disse: “bate uma foto!” E eu bati, bem do olho.

Fiquei com muito medo de postar aquela foto porque não sabia como as pessoas iriam receber. Foi quando o meu filho disse “mãe, essa foto ficou maravilhosa, posta ela! Todo mundo vai amar essa foto!” E, por incrível que pareça, foi uma das fotos na qual eu ganhei um número grande de elogios: a que eu mais tinha medo de postar.

Quem são os seus fotógrafos prediletos no Instagram?

Tem pessoas que eu sigo cujo trabalho aprecio muito. Gosto da @juleslegacuphotography, uma menina lá do Michigan, adoro ela; tem um italiano, o Maurizio Maurino (@oskarone1) que eu amo também. Tem a Edina Merkel (@emerkel_nature) E depois tem mais uns 4 lá que eu adoro.

Eu penso: de onde sai tanta criatividade? Como conseguem captar tanta beleza?

Eu curto as fotos deles, comento, e depois eles vêm e comentam várias minhas. É muito gratificante.

 

Há quanto tempo você está no Primavera Garden?

Eu estou há 18 anos na primavera, é uma história de vida, sempre no caixa. Eu sou boa com pessoas, eu escuto.

Eu só tenho a agradecer. Agradecer por olharem as minhas fotos e curti-las.

Fotografar mudou a sua vida?

Mudou. O meu relacionamento com as pessoas mudou depois que eu comecei a fotografar. Eu estou diferente. Aprendi a olhar as pessoas de outro jeito.

Eu era imparcial, não tomava partido, deixava para lá. Não queria me incomodar. Agora eu me coloco no lugar do outro, aprendi a perdoar mais, a amar mais as coisas sem julgar. Eu me tornei um ser humano melhor. Eu agora sou alguém no mundo, tenho o meu valor, o meu peso.

Eu tive uma série de coisas difíceis pelas quais eu passei, mas eu abri um outro olhar para as coisas. Eu cresci muito como ser humano, aprendi a ter mais empatia. Eu me importo muito com as pessoas à minha volta. Antes eu não queria me envolver, tinha um olhar mais duro. E julgava. Hoje eu penso que tudo tem um porquê.

INSTAGRAM @marcianascimentodilney